Resenha literária: Duas interprestações para Lúcifer, de Paraíso Perdido, por |Janilson Fialho

Por Janilson Fialho (*)
“É melhor reinar no inferno do que servir no céu”. Esta é a frase mais famosa do poema épico Paraíso Perdido, do poeta inglês John Milton (1608 – 1674), que foi publicado em 1667.

Eu não entendo como as pessoas encontram inspiração nesta frase para ficar compartilhando tanto ela (até eu já compartilhei quando estava lendo). Talvez o motivo de tanta inspiração nesta frase seja por uma visão ingênua de liberdade, enxergam no diabo uma espécie de ser livre da burocracia celeste, ou talvez a figura de um filho brigado com o pai.

Tenho duas interpretações para o Lúcifer de Paraíso Perdido, e a primeira é que ele nada mais é que um adolescente birrento, sim; ele faz lembra ao leitor aquela fase da adolescência rebelde, em que alguns momentos de confronto acontecem com as ordens dos pais, e o autor mostra que a desobediência pode levar a ruína, o que acontece com muitos adolescentes quando suas escolhas são ruins, ou seja, iguais as de Lúcifer.

Essa comparação do filho rebelde é uma das interpretações que fiz de Paraíso Perdido, porém, lembrei-me da biografia do autor, que era protestante, sendo específico, ele era anti-católico e também era anti-monarquia. Milton era politicamente ativo, escrevia muito contra a tirania dos monarcas durante uma época bastante conturbada no terreno da política, lembrando até de outro escritor, o Dante Alighieri, este colocou muito de suas desavenças na Divina Comédia. Sim, Paraíso perdido tem um pouco de política na história.

A minha segunda interpretação mostra que a famosa frase só reproduz o que John Milton enxergava nos monarcas, que é a sede de poder, ele colocou essa sede de poder em Lúcifer, um personagem cruel, ambicioso e manipulador, que quer ser o monarca do próprio reino, o reino dos anjos caídos, o inferno.

John Milton mostra através de versos os eventos que aconteceram antes do Gênesis da bíblia, a rebelião de Satã contra Deus, e a expulsão do anjo do céu.

Milton demonstra as penas que o anjo caído e seus seguidores tiveram que enfrentar no inferno. Mostra também que Satã é um personagem profundo, que pode demonstrar sentimentos de angústia, e assim enxergar em si mesmo a sua própria natureza egoísta e suas intenções, que é tramar a sua vingança contra o criador, ele é também bastante sagaz ao fazerem as pessoas se encantarem pelos seus questionamentos sobre a árvore da ciência.

Pode-se dizer que o Lúcifer de Milton influenciou muito nas tragédias literárias do romantismo, apresentando personagens com uma profundidade no caráter.

Os sentimentos de Satã pode diferencia-lo dos demais anjos na história, já que os outros anjos aparecem como figuras rígidas e sem sentimentos, mas em um certo momento eles se tornam parecidos, justamente no autoritarismo.

Satã é impedido de efetuar um ataque direto contra o céu devido ao grande poder de Deus e seu exército celestial, então ele e seus anjos caídos encontram outra saída para efetuar a vingança, que é atacar a criação mais amada por Deus, o ser humano.

O resto da história vocês já devem conhecer, até mesmo quem nunca leu a bíblia.

(*) Janilson Fialho é músico, violonista e estudante universitário do curso de Filosofia

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