Por Djair Alexandre

A vergonha e o sucesso reviraram minha vida escolar do dia para noite. Permitam-me que eu conte a sagacidade da minha mãe que me obrigou a ir fantasiado de “Jacaré do É o Tchan” para o meu primeiro carnaval.
Eu estudava no Colégio Pio XI e, estando ainda na quarta série, eis que o colégio comunicou a todos os pais do carnaval da escola. Eu era um menino tímido por natureza. A única coisa que me tirava da timidez e me fazia relacionar com as pessoas era no futebol, quando um grupo de alunos se reuniam na hora do intervalo para jogar. Mas tudo mudou na minha vida depois deste carnaval.
Certo dia, ao chegar da escola, eu entreguei à minha mãe um folheto que o colégio nos repassou, com a programação do carnaval do colégio e a orientação a todos os pais para que os seus filhos fossem fantasiados para a festa carnavalesca, e levassem sacos de confetes. Eu na minha ingenuidade não pedi nenhuma fantasia específica confiando, obviamente, que minha mãe compraria algo de super herói, como todos os meninos estavam planejando de ir.
Naquela idade eu ainda não sabia que o óbvio era algo a ser dito. Mas, eu era apenas um garoto e sequer imaginava que podia existir fantasias que fariam qualquer menino ter vergonha de usar.
Minha mãe que amava carnaval, estava no céu e saiu para o Centro da cidade, em busca de comprar a “fantasia ideal” para o filho querido. Ela não me levou para escolher e quando retornou estava super empolgada.
- Vem cá, Alexandre. Vai ficar maravilhoso, meu filho, comprei a fantasia do “Jacaré do É o Tchan”.
Eu entrei em pânico. Perguntei de onde ela tinha tirado aquela ideia de me fantasiar do “Jacaré do É o Tchan”. Disse que jamais poderia ir assim, pois era certo como o dia nasce que todos iriam rir de mim. Mas minha mãe não recua em nada, nobres leitores, e disse que depois de ir na rua comprá-la, eu teria que ir com aquela fantasia, SIM!!!!
Eu apelei a meu pai e ele riu bastante. E eu disse até o senhor já está rindo, pai.
- Não, Alexandre, você vai gostar cara. Vai ser divertido.
Eu não tive como fugir dos dois e no dia da festa, ela me fantasiou e me obrigou a ir.
Não é coisa normal de se pensar que um garoto da quarta série escolheria esta fantasia, pensava indignado. Ao chegar na escola tentei ser invisível e corri direto para sala de aula. Chegando lá estavam os meus amigos numa rodinha. Todos contentes com suas fantasias de Batman, Superman, Homem Aranha, entre outros. E então eles me olharam céticos e perguntaram.
- Que fantasia é essa, Alexandre?
Todos estavam com a cara de espanto. E eu respondi para dentro com o rosto meio de lado.
- Jacaré do É o Tchan!
Por um milagre eles não riram nem caçoaram, mas ficou aquele delay em seus olhos e o silêncio constrangedor. Para piorar todos foram para o ginásio onde a festa estava acontecendo, não tinha como ficar escondido.
Caminhando para o ginásio pensei em ir na coordenação e mentir, dizer que estava doente, qualquer coisa, para meus pais irem me buscar. Então entrei discretamente no ginásio.
Nesse momento, todos me olharam, e foi uma gritaria. Caros, amigos, acontece que as meninas estavam todas fantasiadas de dançarinas do É o Tchan, e estavam em duplas. Elas correram para cima de mim e me cercaram, todas falavam ao mesmo tempo me pegando pelo braço.
Meus amigos me olhavam e não entendiam absolutamente nada, a impressão é que todas as meninas do colégio tinham escolhido as mesmas fantasias. E eu era o único como Jacaré.
Elas queriam formar o trio. Eu dizia que não sabia dançar e diziam que isto não importava, queriam que eu ficasse andando com elas para completar o trio e estava perfeito. Então, os meus olhos fixaram naquela que eu sempre olhava pelos corredores, ela pedia que escolhesse a dupla dela. E eu escolhi, claro.
Eu terei fotos ao lado de várias duplas, sempre me pediam emprestado. Fiquei famoso na escola da noite para o dia. Hoje, diriam que eu viralizei.
Então, algo começou a acontecer. A “menina dos meus olhos” estava mais próxima de mim enquanto andávamos. E quis me ensinar a coreografia. Eu já estava fazendo tudo que ela pedia, completamente bobo. Começamos jogar confetes um no outro.
Então, no corredor ela disse: aqui é melhor para te ensinar que ninguém está vendo, no final a gente dá um beijo. Eu disse que ficaria bom na coreografia. E dessa forma foi o meu primeiro carnaval.
Quando cheguei em casa minha mãe super feliz estava rindo pressentindo que eu tinha gostado.
A verdade é que minha mãe era uma carnavalesca profissional. Quando foi comprar a fantasia teve a esperteza de perguntar nas lojas qual a que mais estava saindo. E todos os lojistas disseram que as fantasias de “Dançarinas do É o Tchan” tinham se esgotado. E ela perguntou: e a do “Jacaré do É o Tchan”? O lojista confessou que tinham ficado encalhadas.
- Eu te fiz num carnaval, menino!
Disse minha mãe.
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