Por Djair Alexandre

Estando eu aos sete anos de idade assistindo a televisão, distraído em brincadeiras no sofá, eis que no Jornal Nacional foi apresentada a dívida externa do Brasil. A previsão para o país quitar toda a dívida era sombria, pois dizia-se “impagável”.
A afirmação que fiz para meu pai Wellington Alexandre de Farias, jornalista e cronista, assim como a minha mãe, Eloise Elane, também jornalista, foi que eu ficaria um idoso e não ia ver o fim da dívida. Meu pai e minha mãe - rindo de tudo - disseram-me que não era verdade, que o Brasil tinha dinheiro e um dia haveria de pagar tudo.
E foi bem como eles disseram. Aconteceu que sete anos depois, na eleição de 2002, um homem chamado Lula da Silva foi eleito Presidente e passou a governar o Brasil no dia 1º de janeiro de 2003. Uma das primeiras coisas que realizou?! Pasmem, quitou a dívida e desmentiu os diversos governantes que o antecederam de que a dívida brasileira era impagável.
Eu era um menino que, mesmo sem entender o que significava dívida externa, já me preocupava com ela. Isso me impressiona até hoje. Nessa época, quando eu saía da Escola, tinha muitas vezes que acompanhar meus pais nas reportagens e entrevistas. Como não tinha com quem ficar, na maioria das vezes, brincava nas redações com uma caneta e uma régua ou tentando datilografar nas máquinas que antecederam o computador de mesa.
Tudo me fascinava nas redações, a beleza das jornalistas era uma das coisas, e a impressão era que ser da imprensa era ser feliz. Em momentos importantes todos ficavam frenéticos correndo de um lado para o outro. Vi de tudo!
Nos feriadões ou nas noites de lua cheia, estes escritores do cotidiano pediam emprestada uma casa de praia em Cabedelo, para fazer um lual. Minha mãe levava uma rede e logo cedo, meu pai me colocava para dormir. Porém, tinha um pequeno problema, qual seja: eu dormia cedo e meus pais e seus amigos viravam à noite ao redor de uma fogueira, às vezes na praia, às vezes no quintal da casa. Às 5 horas da manhã todos estavam indo dormir, e eu estava acordando! Exatamente, fazendo barulho com minha bola, cantando e berrando para ir brincar no mar. O desespero tomava conta de todos.
- “Alguém cala boca desse menino!”
- “Alexandre, vem cá no quarto que todos vão brincar de dormir!”
Minha mãe dizia: “Ninguém dá cascudo no meu filho, não vá Alexandre!”
Algo bom de lembrar era que os jornaleiros jogavam todos os dias, os jornais diários por cima do portão. As casas dessa época tinham cheiro de jornal e pão francês.
Eu brincava com os gravadores e sem querer gravava por cima das entrevistas, a sorte é que meus pais anotavam as respostas em cadernos.
E qual seria minha crítica para a imprensa? Talvez que ela nos devolvesse o cheiro de jornal, pode ser em colônias ou em tubos de bom ar, não importa. Pedir união seria hipocrisia pois quando os jornalistas brigavam na década de noventa a discussão toda vez se estendia nas colunas publicadas. Li muitas. Ora, meu pai também brigava às vezes e escrevia uma coluna criticando o amigo que devolvia da mesma forma. Eu morria de rir, a cidade ficava sabendo.
Não, por favor, a relação da imprensa com o poder sempre foi equilibrada. E aprendi ainda na casa de veraneio sobre isto.
- No New York Times o nome do Diretor é debatido no salão da Casa Branca, meu amigo.
- Pois é. A gente vai ser os diferentes e não vamos negociar o Diretor com o Governo do Estado.
A verba pública é importante para as empresas de comunicação e sempre será assim.
Mas o Governo gastar com propaganda de remédio o mesmo valor que gasta com a compra dos remédios da população também é demais. Foi minha tese no TCC do curso de direito, eu criei essa teoria e os juízes passaram a sequestrar a verba destinada a propaganda de medicamentos quando acabavam remédios na rede de saúde.
É uma longa história, mas tirei 10.
Deixe seu comentário