
A dinâmica política e o enredo da Semana Santa: livrai-nos do mal, amém!
Por Ringson Monteiro de Toledo (*)
Em clima de início, neste espaço ofertado pelo amigo Djair e seu pai, o patriarca Wellington Farias, saúdo os diletos(as) leitores(as), de longe e de perto, de pouca ou mais idade que me acompanharão, expressando as agruras e alegrias que no movimento da vida espera e sonha com dias melhores, onde estamos inseridos e vamos, em passos lentos ou mais apressados, sobrevivendo à custa de muita fé, sabedoria e trabalho.
Mas, sem delongas e conversa “besta” a titulação trazida acima não tem o condão de fazer uma catequese sobre a semana que entramos, chamada de santa, pelo evento cristão da passagem da morte para a vida, muito embora traga elementos nela vividos, apenas para ensaiar alguns comparativos. Pelo contrário, a súplica inserta na oração chamada dominical ou do Pai Nosso é mais atual do que se pensa.
A inquietação nasce de quem observa o passo a passo da eterna “quaresma penitencial” em que vive a politica local e nacional, que parece, até o presente momento, ter chegado ao afã de um Domingo de Ramos – alusivo a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém - muito similar ao que vimos na entrada, nada triunfal dos que, há algumas semanas atrás estavam lutando e esbravejando frente ao velho coronelismo dos que fazem dos partidos políticos uma pocilga ou um curral, deixando de lado a ideologia do diálogo e a pseudo democracia, culminando até com expulsões. Em suma, não se sabe distinguir, de fato, quem são os que vociferaram hosanas ou travestiram-se de “jumentos”, para carregar os seus cristos, que de longe não se assemelha ao de Nazaré, na Galileia.
Nesse teatro partidário, viu-se de tudo, inclusive o protagonismo de quem manda mais e quem mais tem poder de barganha. Houve até ensaio de ciúmes, traições e antecipados “tapetões”, teatralizados nos eventos da famigerada janela partidária, onde quem pôde pulou e quem não pôde viu a janela se fechar.
Esses entraves da velha política assemelham-se aos mesmos que entraram triunfais em Jerusalém, gritando hosanas e vivas, quando é conveniente, mas ao final, no pretório de Pilatos, foram sugados pelo ódio visceral, opondo valores e dilacerando o sentido real da lealdade e do caráter (basta ver quantos foram preteridos e escorraçados, apenas, no estágio da troca partidária...quicá, nas convenções).
Nesse caldo, a petição oracional continua atual: “livrai-nos do mal, amém”. Livra-nos, Senhor, do espírito maldoso e das ervas daninhas, emaranhadas nos conchavos políticos que desprezam os mais pobres e os mais necessitados das finalidades a qual se destina a boa política. Livra-nos, Senhor, dos resultados emergidos das discussões egoístas desses homens e mulheres, engalfinhados nos porões escuros do partidarismo vil, nojento e sem escrúpulo, muitas vezes pela retórica sórdida de que querem “reconstruir” o Brasil e a Paraíba ou de outros que, à semelhança de cordeiros mansos ao matadouro, apresentam-se como moralistas e defensores dos costumes e de uma moral familiar e social acima de tudo, principalmente ferindo o segundo mandamento mosaico, quando usam o nome de Deus em vão.
Ao vermos os discursos polidos, a experiencia mostra que são opacos, sem conteúdos e periféricos nas abordagens e na execução de tornar o exercício do poder como algo construtivo. Os que assim agem, e que deveriam estar distantes da vida pública, na essência, flagelam a boa política e alijam os que querem fazer dela uma ação em vista da pólis.
As notícias acerca da morna discussão entorno das chapas futuras, por exemplo, que coisificam e prostituem a grandeza da política, minorando seu prisma, apenas, aos que podem compor espaços na majoritária e proporcional ou a quem abocanhará os recursos dos fundos orçamentários, deixa à mostra a hipocrisia dos que se dizem defensores do povo, esquecendo, mais uma vez quem de fato são os seus destinatários.
O diálogo e o “gastar” de salivas e neurônios, para finalizar a lista dos partidos, não consideram no seio da discussão a melhoria de vida de quem sofre cotidianamente o peso da violência e da falta de política pública básica. O partidarismo brasileiro, sob a nefasta presença dos que maculam o exercício político, parece relembrar a “procissão dos passos e do encontro” com a presença de uma mãe dolorosa, alquebrada, lacrimosa e vestida de luto, trespassada pela dor de encontrar seus filhos verdadeiros - leia-se os que irão, apenas, em outubro com o título de eleitor e a vergonha - serem chagados, posteriormente, pelo desprezo e insulto de quem, mais uma vez ficará no calvário e não ressuscitará, devendo beber o fel da amargura e assistir a promiscuidade dos homens e mulheres de mandato, com raríssimas exceções, que após o estardalhaço de um processo eleitoral medíocre, deixará de lado a educação, saúde, saneamento e outras tantas, que se tornam escassas no Brasil.
Por tudo isso, continuamos a gritar: livrai-nos do mal, amém!!!!
(*) RINGSON MONTEIRO DE TOLEDO
ringoadvogado@hotmail.com
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